sexta-feira, 27 de maio de 2011
Pagode no quintal
Meus tios Maurício ,Marcílio e Leleco sempre foram muito unidos e na sua juventude procuravam fazer quase todas as suas atividades sociais juntos. Praia, futebol, passeios diversos ,ir ao Maracanã ou a outro estádio em que o Flamengo ia jogar, etc. qual fosse o evento social eles estavam sempre compartilhando.
Um desses eventos foi lá em casa no quintal quando estavam reunidos além deles o Israel ,o Isaías (meu padrasto) , o tio Aroldo (Santos) e o Walter Cabelinho, as suas respectivas namoradas, alguns vizinhos que sempre frequentavam a nossa casa e é claro nós a gurizada curiosa para completar o quadro. A batucada começou com uma garrafa de Crush vazia e foi se completando com um berimbau trazido especialmente da Bahia pelo Tio Aroldo quando foi se apresentar por lá. Bastou um toque sem muita pretensão, todos começaram a se arrumar e o pagode rolou solto. Como era também pretexto para que “Os Penumbras” ensaiassem para se apresentarem na Buzina do Chacrinha, o violão,o surdinho, a cuíca e o tantan (que substituía a bateria) logo foram trazidos para assumirem seus papéis de destaque naquele ensaio.
A memória retrata que lá pelas tantas quando todos já estavam pra lá de entusiasmados pelos rabos de galo e cuba libres, que eram as bebidas mais consumidas pela galera, ouviu-se um estalo no chão. Deixa eu dar uma pausa aqui para explicar: o nosso barraco ficava numa parte digamos segura devido ao piso estar em cima de uma base de pedra, entretanto o quintal era feito de madeira com as bases de perna manca fincadas no concreto até um certo ponto sem aparecer, pois o Exército não permitia que se fizesse nenhuma moradia em alvenaria e como era uma época de Regime Militar...
Pois bem, após o primeiro estalo, a turma deu um tempo e ficou esperando pra ver o que aconteceria; nada aconteceu e o som voltou ao seu normal só que sem o Tio Aroldo que foi em casa tomar um banho para poder “correr atrás de umas caitituagens” de seu então LP “Até que enfim”. Os meninos estavam entusiasmadíssimos e a mulherada já dançavam à toa quando de repente de uma só vez o piso veio abaixo deslizando sobre si mesmo para baixo e para frente. O nosso susto foi enorme e a sorte maior ainda porque ninguém se machucou gravemente na queda com exceção do Israel que por estar na lateral do quintal ficou na parte mais extrema e numa posição digamos um tanto quanto ridícula. Explico: quando o piso desabou no solavanco da batida ele foi lançado pra cima e na queda ficou de cabeça pra baixo dentro do intervalo entre as escadas e o que restou do piso, com um pedaço quebrado da perna manca que servia de base ao piso entre as pernas e um prego enfiado bem na região das suas partes íntimas e ele ficou ali gritando de dor.
A situação era cômica se não fosse tão trágica: não sabíamos se o ajudávamos ou se ríamos. Escolhemos a primeira. Os meus tios apesar dos arranhões tentaram virá-lo, mas cada vez que tentavam o bendito prego entrava cada vez mais e o homem gritava mais alto; tentamos então vir por baixo e segurá-lo , enquanto outros desvencilham-no do incômodo prego. Desnecessário falar da sangueira que ficou no local e a cara que o Israel fez de tão sem graça que estava na frente das minhas tias e primas. Minha mãe , a enfermeira que estava de folga naquele dia, ficou momentaneamente sem saber o que fazer, por causa do meu padrasto , pois para atender a situação ela teria que fazer assepsia do local, etc. e tal. Daí da pra imaginar a cena de ciúme que poderia acontecer? Mas a baixinha era tinhosa e altamente profissional; ela levou o Israel para o quarto dos homens, chamou –os para acalmá-lo, pegou todo o seu material de primeiros socorros e fez o seu trabalho. O tempo passou e virava e mexia nós lembrávamos do prego no Israel e morríamos de rir da situação, menos o Israel é claro.
quinta-feira, 26 de maio de 2011
O Cinto PQD
O E.P.I. significa Equipamento de Proteção Individual e é sabido que os trabalhadores que ganham a vida em telhados são obrigados a utilizar o cinto de segurança tipo paraquedista em sua proteção por motivos óbvios. Em minha reunião diária com os trabalhadores, antes do início de seus afazeres no Projeto Sivam em Cruzeiro do Sul/Acre, quando trabalhava como técnico em Segurança do trabalho, sempre discorria sobre os perigos de se trabalhar sem os equipamentos necessários, etc, e tal.
Entre os vários profissionais tinha o Amarildo, rapaz forte, tipo amazônico com cabelos escorridos muito negros e olhar firme. Ao contrário dos outros ele era muito falante e sempre perguntava o que os demais não tinham coragem de fazer. Naquele dia em especial eles iriam levantar as tesouras do prédio chamado KT e a outra turma logo a seguir iria formar o piso.O cuidado deveria ser o máximo para não haver queda de objetos e evidentemente acidentes.
Por volta das onze horas da manhã quando cheguei ao local, após verificar a outra frente de obra mais ou menos a um quilômetro dali, encontrei o Amarildo pálido igual a um papel e com as mãos geladas; perguntando sobre o que havia acontecido ele quase não conseguia falar, o que foi substituído pelo "seu" Francisco, um armador designado também para fazer aquele serviço:
- Sabe "seu" técnico, nóis táva travando os parafusos do jeitinho que o senhor explicou com todo o cuidado pra não cair nada lá embaixo quando o Amarildo escorregou da tesoura e ficou pendurado qui nem bode pra dessossar. O cabra só conseguiu subir com a nossa ajuda e depois disso nóis veio até aqui e esperou o senhor.
Vendo que não haveria mais clima para trabalhar, suspendi aquela atividade até o almoço e já de antemão avisei ao pessoal para não caçoarem do Amarildo pois ele tinha vivido de novo.
É desnecessário dizer que meu maior aliado depois disso, em relação a uso de qualquer E.P.I. foi ele.
Entre os vários profissionais tinha o Amarildo, rapaz forte, tipo amazônico com cabelos escorridos muito negros e olhar firme. Ao contrário dos outros ele era muito falante e sempre perguntava o que os demais não tinham coragem de fazer. Naquele dia em especial eles iriam levantar as tesouras do prédio chamado KT e a outra turma logo a seguir iria formar o piso.O cuidado deveria ser o máximo para não haver queda de objetos e evidentemente acidentes.
Por volta das onze horas da manhã quando cheguei ao local, após verificar a outra frente de obra mais ou menos a um quilômetro dali, encontrei o Amarildo pálido igual a um papel e com as mãos geladas; perguntando sobre o que havia acontecido ele quase não conseguia falar, o que foi substituído pelo "seu" Francisco, um armador designado também para fazer aquele serviço:
- Sabe "seu" técnico, nóis táva travando os parafusos do jeitinho que o senhor explicou com todo o cuidado pra não cair nada lá embaixo quando o Amarildo escorregou da tesoura e ficou pendurado qui nem bode pra dessossar. O cabra só conseguiu subir com a nossa ajuda e depois disso nóis veio até aqui e esperou o senhor.
Vendo que não haveria mais clima para trabalhar, suspendi aquela atividade até o almoço e já de antemão avisei ao pessoal para não caçoarem do Amarildo pois ele tinha vivido de novo.
É desnecessário dizer que meu maior aliado depois disso, em relação a uso de qualquer E.P.I. foi ele.
sexta-feira, 20 de maio de 2011
A nossa Enfermeira
No dia da Enfermagem, li algumas homenagens à Florence Nightingale e fiquei curioso por sua rica história de vida. Comparei-a com a de uma pessoa que convivo desde os meus cinco anos de idade quando tive o infortúnio de levantar pela manhã e verificar a minha mãe “dormindo eternamente”. Fui cuidado imediatamente por sua prima que desde aquela época já chamava também de mãe.
Observava sempre que podia seus afazeres, acompanhava-a no seu trabalho em minhas férias escolares e lia com avidez seus livros técnicos que muitas vezes não entendia patavinas daqueles termos tão diferentes.
Ela era relativamente muito simples, realizava no domicílio do enfermo, diga-se nas casas dos moradores lá do morro em que morávamos, curativos , ministrava alguns medicamentos e cuidava da higiene consistida somente em atender as necessidades físicas do doente.
A população da época acreditava que os cuidados ministrados por aquela “enfermeira” eram melhores que os dos hospitais e muitas vezes a minha mãe chegava cansada dos plantões e tinha que atender a várias pessoas que a aguardavam já com os remédios, injeções e materiais de curativos. Minha mãe sempre acreditou que sua vocação para enfermagem provinha de um chamado divino, ela sempre foi muito determinada em suas decisões , tanto é que em plena época da ditadura militar, no fim dos anos 60 e começo da era “hippie” do paz e amor, ela havia adotado dois meninos : eu e meu irmão, sem ter um marido para dividir as responsabilidades da criação dos filhos. Minha história eu já contei rapidamente, mas a do meu irmão era diferente. Ela trabalhava na maternidade de Botafogo e cuidava de um bebê prematuro, pretinho e lindo que de todos chamava a atenção. Quando ele saiu da situação crítica e da incubadora, a mãe conseguiu fugir e o abandonou sem deixar nenhum contato. A adoção foi outro desafio, pois uma mulher solteira tinha muitas dificuldades de conseguir a guarda de uma criança naquela época, mas isto foi facilmente contornado por meu tio-avô – pai dela- que como militar das forças auxiliares (era Policial Militar reformado) conseguiu sem problemas resolver o caso adotando o menino como se fora seu.
Quando foi designado a trabalhar no Posto de Saúde da Rua Tonelero, ela se impôs a uma obrigação para com seus pacientes e até algumas vezes esquecia-se de cuidar dela mesma. Também possuía um lado afetuoso, característico da enfermagem, a humanização. Ela nunca deixava seus pacientes sozinhos. Estava sempre ao lado deles dando apoio e conforto. Conosco sempre tinha uma hora vaga para nos acompanhar nos estudos ou ir conosco no primeiro dia de aula. Nossa Florence tupiniquim era e ainda é um referencial, os médicos com quem ela trabalhou sempre ma elogiavam por sua conduta e hoje vejo que DEUS a colocou em minha vida para ter a oportunidade de poder relatar a outras pessoas que amar ao próximo é e sempre será o combustível eterno do amor divino.
terça-feira, 17 de maio de 2011
Vovó Osmíria
Lembranças, lembranças e lembranças
No rosto cansado as rugas...
Marcas, cicatrizes de uma vida longa
Cheia de desafios e histórias pra contar
Tristes, Alegres, Engraçadas,
Verdadeiras lições de vida
Corpo no seu limite de idade...
Dos afazeres diários afastada.
Assumidos agora pela filha herdeira
Guerra constante contra o tempo...
Mulher nobre, Cheia de amor
De sabedoria imensa, plena
Palavras certas nas horas certas,
Ensinando o melhor caminho a seguir
Delicada e ao mesmo tempo forte
Sorriso maroto estampado sempre em teu rosto.
Sempre com carinho e apoio,
Desde que botastes esses olhos ternos em nós.
Só temos a agradecer a DEUS todos os dias
Por esse anjo...
Esta mulher...
Esta mãe...
Esta avó...
Esta bisavó...
Esta tataravó...
E acima de tudo amiga que com esses braços cuidadosos,
Sempre amparando a todos.
Cuidando de nós mais que de si mesma
Dia após dia com seu jeito simples e sincero,
De atos cativantes, de bom gosto e generosos.....
Tudo isso adquirido ao longo de 93 anos bem vividos,
Cheios de doação e dedicação.
Dedicação esta que recebemos diariamente
Nós todos que a procuramos.
Obrigado Dona Osmíria
Por ter nos ensinado a cultivar os mais nobres dos sentimentos
O amor e a compreensão.
Obrigado estar sempre ao nosso lado!!!
Obrigado Senhor por me colocar este anjo em minha vida
domingo, 15 de maio de 2011
Que foi que eu fiz? (O dilema –parte 2)
- E aí, por que é que tu tá nessa?
- nada não.
- ninguém tá aqui por nada
- mas eu não fiz nada mesmo
- então tá, já que tu não fez nada por que é que te trouxeram?
- um 121e um 157
- e isso não é nada?
- me bolaram numa roubada
- tá
- é verdade, tava no lugar errado e na hora errada, dancei.
- dançou mesmo, tu sabe que tirar a vida de alguém traz um monte de nego atrás de tu né?
- to sabendo, mas é que eu sou inocente mesmo.
- tá.
- mano, eu não tenho culpa se os dois caras que tavam na minha área se acabaram bem perto lá da boca e o outro que tá vai não vai, também.
- hum! Tá começando a virar a placa
- tá não, eu sou inocente.
- valeu
- mano, os carinhas eram do outro lado do morro, tavam na minha área, os home acharam eles apagados, eu tava de bobeira, dancei
- sei
- te digo uma coisa, quando o doutor chegar eu vou falar direitinho com ele. Não vou tocar piano de novo não
- de novo?
- é já puxei uns cinco anos por um 171
- e
- e fugi
- e aí?
- me pegaram agora e tão me colocando esse 121 em cima
- e tu ainda diz que não fez nada?
- é eu tô te aplicando essa, tô fora é só o doutor chegar e eu vou sair limpinho.
- tomara
- é claro, a rapeize do pedaço já tá se juntando pra dizer que eu tava no futebol, to limpo
- legal, cadê o doutor que vai te tirar?
- sei lá, to esperando o dindin chegar pra poder contratar
- e quem vai trazer o dindin
- a rapeize
- ih, sujou!!!!
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Que foi que eu fiz? (O dilema –parte 1)
- Seu doutor juiz, eu não fiz nada disso que tão me acusando não.
- Então, porque você foi preso?
- Eu não nasci pra calejar as mãos doutor, trabalho de escravo? To fora. Olha só pras minhas mãozinha, tudo lisa como seda.Foi culpa da dona Maricotinha, essa mulher me detesta há muito tempo.
- Sabe, ela mora lá na minha rua e vive olhando os pessoal que passa por lá em frente da casa dela.
- E...?
- E se fosse só isso tava bom, né? O negócio é que a casa dela fica ao lado do bar do Zé Português.e toda vez que eu lá , tinha uma história: era da Zefinha “Quebra Telha”, do “seu” Arnaldo Pinguço”, do Botija, da dona Santinha, do “Caixa Preta” , do Osvaldinho “Bafo de Onça”, só gente fina!
- E daí?
- Aliás, foi por causa do Osvaldinho que me envolveram nessa “roubada”.Nós tava jogando carta, coisa que gosto de fazer de vez em sempre, e quando o Osvaldinho passou na frente da casa dela, a fuleira não foi dar com a língua nos dentes que eu tinha um az de ouro na manga direita e um az de copas na manga esquerda? Isso é minha estima, só recordação, nunca, nunquinha que eu uso elas.
- Humm!
- É sério, doutor! Quando o Caixa Preta, o dono da banca, soube disso me colocou na parede pra me dar um sacode. Eu é que não ia ficar na frente da peixeirona do Osvaldinho na minha direção, também não é minha culpa que o tresoitão tava cheinho e justamente no bolso da minha calça. Naquela arrumação de pula pra lá e pula pra cá, ele caiu e disparou, só que acertou o Osvaldinho no meio da testa, o Caixa Preta no relógio-a bombinha dele parou na hora-e o “seu” Arnaldo na perna de apoio.
- Mas...
- Seu doutor juiz, to falando pro senhor o mais forte dos babado: eu sou inocente. Esses 157 que me jogaram em cima é pura forçassão de barra da D. Maricotinha que sempre quis me pegar numa fria desde que a gente teve um caso.
- Entendo...
- Eu só saio dessa por sua causa. E aí doutor juiz, o que é que o senhor decide?
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