O candidato estava
eufórico naquela apuração.
Afinal depois de tantos
anos lutando sindicalmente, tendo galgado o cargo de Secretário
Municipal e de olho na Secretaria Estadual, ele teria a real chance
de conseguir chegar lá e realizar o seu tão almejado sonho. Era
muita alegria para compartilhar com os amigos, correligionários,
familiares, simpatizantes, membros dos partidos de coligação,
enfim, todos os que participaram da campanha vitoriosa. O coração
batia descompassadamente a cada urna que fora aberta e cada voto
computado a seu favor. Os gritos de alegria juntavam-se às somas dos
matemáticos do Partido que já faziam previsões de quem iria
conseguir a sua vaga pelos votos e pela legenda com as coligações,
numa complicada soma que só eles entendiam.
E o suor escorria por
todos os poros, causados pelo nervosismo e pela ardente expectativa
iminente de vitória naquele pleito. Estava tudo certo, corria tudo
bem e só faltavam as urnas que viriam do interior, dos chamados
ribeirinhos cujo número não era assim tão expressivo, afinal o
candidato era o primeiro colocado de seu partido e nada poderia
fazê-lo perder aquela vaga a não ser que viessem 80% dos votos para
o seu adversário que aparentemente não tinha força política
naquela região, a apuração era questão de se fazer oficial aquilo
que já se sabia como certo: a vaga do candidato.
Alguém resolveu soltar
um rojão e gritar que o candidato já estava eleito, os “analistas
“ das rádios entraram também na euforia não acreditando numa
virada impossível e a festa antecipada começou.
Os barris de chopp
foram encomendados às pressas, os salgadinhos comprados no comércio
24 horas e o som ficou por conta dos caminhões utilizados na
campanha e os jingles eram repetidos ininterruptamente. O pula-pula e
frases de “já ganhou”, “ esse é o cara”, “é o melhor”
e por aí iam se multiplicando. A turma não parava mais. Era um
explosão de alegria só.
No dia seguinte, quando
todos acordaram e verificaram as apurações completadas, veio o
“balde de água fria”: as urnas restantes deram a tão inusitada
porcentagem de votos para o adversário virar a mesa e levar a vaga
tão sonhada e festejada antecipadamente.
O golpe era duro
demais, as pessoas ainda estavam um tanto atordoadas , quando
começaram as gozações dos adversários sobre a festança de
véspera e o porre de decepção no dia seguinte. Não se falava
outra coisa na cidade e no bairro do candidato. As opiniões eram as
mais diversas. A decepção era tamanha que somente o que restou ao
candidato foi refugiar-se no sítio a alguns quilômetros da cidade
até se refazer do susto e da frustração. Como foi possível? Como
o adversário pode ter 92% dos votos dos ribeirinhos? O que é que
ele tinha feito de errado? As formiguinhas tinham sido mal pagas ou
os “presentes” não chegaram às mãos certas? Tinha que avaliar
tudo isso, mas uma coisa era certa: tinha sido derrotado. O
candidato mantinha-se ainda confiante de que algo estava errado nas
informações e não se deixava abater por noticias“ruins” vindas
dos “assessores”. A confirmação oficial do T.R.E. pôs fim ao
tão sonhado cargo. Agora era esperar os ânimos se acalmarem, ver
com o Partido onde se encaixaria no próximo governo ou se esperaria
as próximas eleições. Era questão de tempo e isso ele teria de
sobra por mais dois anos e para passar a “vergonha” o candidato
saiu em férias para o Nordeste em lugar incerto e não sabido.
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