quinta-feira, 10 de maio de 2012

A urna



O candidato estava eufórico naquela apuração.
Afinal depois de tantos anos lutando sindicalmente, tendo galgado o cargo de Secretário Municipal e de olho na Secretaria Estadual, ele teria a real chance de conseguir chegar lá e realizar o seu tão almejado sonho. Era muita alegria para compartilhar com os amigos, correligionários, familiares, simpatizantes, membros dos partidos de coligação, enfim, todos os que participaram da campanha vitoriosa. O coração batia descompassadamente a cada urna que fora aberta e cada voto computado a seu favor. Os gritos de alegria juntavam-se às somas dos matemáticos do Partido que já faziam previsões de quem iria conseguir a sua vaga pelos votos e pela legenda com as coligações, numa complicada soma que só eles entendiam.
E o suor escorria por todos os poros, causados pelo nervosismo e pela ardente expectativa iminente de vitória naquele pleito. Estava tudo certo, corria tudo bem e só faltavam as urnas que viriam do interior, dos chamados ribeirinhos cujo número não era assim tão expressivo, afinal o candidato era o primeiro colocado de seu partido e nada poderia fazê-lo perder aquela vaga a não ser que viessem 80% dos votos para o seu adversário que aparentemente não tinha força política naquela região, a apuração era questão de se fazer oficial aquilo que já se sabia como certo: a vaga do candidato.
Alguém resolveu soltar um rojão e gritar que o candidato já estava eleito, os “analistas “ das rádios entraram também na euforia não acreditando numa virada impossível e a festa antecipada começou.
Os barris de chopp foram encomendados às pressas, os salgadinhos comprados no comércio 24 horas e o som ficou por conta dos caminhões utilizados na campanha e os jingles eram repetidos ininterruptamente. O pula-pula e frases de “já ganhou”, “ esse é o cara”, “é o melhor” e por aí iam se multiplicando. A turma não parava mais. Era um explosão de alegria só.
No dia seguinte, quando todos acordaram e verificaram as apurações completadas, veio o “balde de água fria”: as urnas restantes deram a tão inusitada porcentagem de votos para o adversário virar a mesa e levar a vaga tão sonhada e festejada antecipadamente.
O golpe era duro demais, as pessoas ainda estavam um tanto atordoadas , quando começaram as gozações dos adversários sobre a festança de véspera e o porre de decepção no dia seguinte. Não se falava outra coisa na cidade e no bairro do candidato. As opiniões eram as mais diversas. A decepção era tamanha que somente o que restou ao candidato foi refugiar-se no sítio a alguns quilômetros da cidade até se refazer do susto e da frustração. Como foi possível? Como o adversário pode ter 92% dos votos dos ribeirinhos? O que é que ele tinha feito de errado? As formiguinhas tinham sido mal pagas ou os “presentes” não chegaram às mãos certas? Tinha que avaliar tudo isso, mas uma coisa era certa: tinha sido derrotado. O candidato mantinha-se ainda confiante de que algo estava errado nas informações e não se deixava abater por noticias“ruins” vindas dos “assessores”. A confirmação oficial do T.R.E. pôs fim ao tão sonhado cargo. Agora era esperar os ânimos se acalmarem, ver com o Partido onde se encaixaria no próximo governo ou se esperaria as próximas eleições. Era questão de tempo e isso ele teria de sobra por mais dois anos e para passar a “vergonha” o candidato saiu em férias para o Nordeste em lugar incerto e não sabido.


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