
Quando alguém gritou a notícia foi igual à rastilho, rapidinho tinha um monte de curiosos procurando de onde viera o grito. Era dona de casa de baby-doll feito de camisa de político, era ninfeta de shortinho aguçando a libido dos coroas, era marido com cara de sono chateado por ter sido acordado no meio da noite, era menino curioso se metendo no meio dos adultos e perguntando o que estava acontecendo, enfim bagunça geral. O fogo havia sido iniciado na casa da Nenê Pomba que, depois de ter tomado todas e mais algumas, dormira com uma vela acesa em cima da máquina de lavar roupa porque a sua energia fora cortada por motivos óbvios: falta de pagamento. A vela caíra em cima das roupas que seriam lavadas no dia seguinte, estas queimaram a máquina, que queimou a mesa da sala, que tinha outras roupas limpas esperando para passar, que queimaram uma parte do teto, que se alastrou para a cozinha e queimou o armário de comida, que queimou a frigideira cheia de óleo das batatas fritas dois dias antes, que queimou a mangueira da botija de gás que por sua vez lançou as labaredas de volta ao teto e este juntou-se ao do vizinho que ao sentir o cheiro de fumaça deu o aviso. O corre-corre era geral e o pessoal muito preocupado com a Nenê Pomba foi até lá e viram a coitada jogada em cima da cama sem nenhum esboço de reação. O Joca do Tiziu foi o primeiro a entrar no barraco, seguido pelo Mario Barata; ambos eram estivadores e tinham acabado de chegar na favela quando ouviram o grito. O Joca pegou a bêbada pelos pés e o Mário pelas mãos e lá se foram porta afora cheios de fumaça e rezando para nenhuma perna manca lhes cair na cabeça. Os baldes de água vinham sabe lá Deus de onde, a corrente foi formada tão rápido que quando os bombeiro chegaram só tiveram tempo para o rescaldo. A Nenê , desolada num canto, só falava no barraco que perdera, os vizinhos na sorte do fogo não ter se alastrado mais e os bombeiros por mais uma ocorrência com perdas somente materiais e de nenhuma vida. A favela respirava mais aliviada pelo susto e na cabeça de todo mundo só se passavam as dicas que o Tenente havia dado pela televisão em caso de incêndio nas favelas daquela periferia da cidade. Assunto para televisão e jornal da internet foi logo esquecido pelo sumiço de uma moça raptada na saída de seu prédio. Mas isso já é outra história...