terça-feira, 6 de março de 2012
O Passarinho morreu
- O passarinho morreu! O passarinho morreu! Acordei com aquela frase sendo repetida não sei quantas vezes pelo pequeno que, aflito tentava me tirar da cama e mostrar o pássaro que provavelmente caíra da árvore fincada no canto do quintal. - Calma, dizia eu, já tô indo ver o que aconteceu. - Pai, leva ele para o Médico Legal para cuidarem dele, os filhotinhos estão chorando, olha lá, dizia apontando para o ninho com três filhotes de pardal num galho da mangueira. Ao deparar com a cena o meu coração ficou paralisado. Marquinhos tinha colocado um short seu sobre o bichinho para tentar protegê-lo e tentava a todo custo tirar o Otto, nosso cachorro, de perto . Os latidos já estavam me deixando maluco e ainda tonto de sono, por uma noite mal dormida após um plantão alucinante de 24 horas no hospital municipal. Peguei o pequeno pássaro e notei um pequeno filete de sangue na asa esquerda e uma pálpebra semi-aberta que quase faltava me dizer: - socorro! Fiquei feliz em ver que o pardalzinho não morrera e sim tomara um tombo causado provavelmente por uma pedrada em sua asa quando estava chegando ao ninho. Perto de seu bico estava uma minhoca ou algo parecido que de tão gosmento não tive coragem de pegar; achei que talvez fosse a comida dos filhotinhos que tanto piavam no ninho. Limpei o sangue e coloquei uma pomada cicatrizante tentando minimizar o sofrimento da ave. Os olhinhos de Marquinhos brilhavam de alegria enquanto ele pulava de um lado para o outro ora rindo ora falando que já tinha acabado tudo como se o passarinho o entendesse. O mundo adulto às vezes é muito racional e não entendemos como funciona para as crianças porque não queremos voltar às origens. Bastava ver que a imaginação daquela criança estava nos desenhos que assistia na televisão sobre os bichinhos amigos dos humanos. Eu já tinha despertado de vez e estava pensando como iria colocar o passarinho de volta ao ninho salvo tendo que alimentar os filhotes sem a menor noção do que seria o seu almoço. Minha mulher tinha feito um caldo de galinha delicioso, quando tivemos então a idéia de colocarmos numa seringa e injetarmos na goela dos filhotes. Qual não foi a nossa surpresa quando verificamos que os danadinhos sugavam tudo com uma avidez de dar inveja a qualquer bebê. Os dias passaram e era uma luta segurar a ansiedade do Marquinhos quando chegava a hora de dar comida aos pequeninos e também cuidar do pardalzinho ferido ou eu poderia chamá-la de pardalzinha, pois tinha tudo para ser a mamãe. Ele(a) já ficava em pé sozinho(a) e algumas vezes tentava bater as asinhas ainda cheias de pomada; a cada tentativa um aplauso até o dia em que finalmente ele (ou ela) conseguiu voar sozinho(a). Todos os dias vínhamos até a varanda e colocávamos algum pedaço de fruta para o “nosso” passarinho de estimação.
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Por criança fazemos cada coisa...
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